terça-feira, 19 de maio de 2009

Tempo

O tempo anda o tempo todo
Todo o tempo sem parar
Vamos nós passando o tempo
Vivendo a vida intensamente
Crescendo sem parar
No tempo ontem éramos contentes
Brincávamos . . . crianças inocentes
De repente o tempo de responsabilidade
A adolescência trazendo descobertas
Ah . . . a faculdade
Tempo bom de viver
Se sentindo bem e se vendo capaz
De seguir em frente e prosperar
Um tempo pesado
Poucas vezes amenizado
Tempinho para a diversão, descontração, amizade
Tempo do papinho no corredor, choppinho, intimidade
Ontem o tempo era de rebeldia
Incertezas constantes o tempo todo
Hoje já quase sem tempo
A vida passa correndo
Atribulada de compromissos
Pois o agora é tempo de amadurecer
Viver o tempo hoje
Com base no tempo ontem
Para propiciar melhor o tempo amanhã.

Noite de Outono

Já é outono
A lua brilha no céu
Acompanhada de belas estrelas

As folhas estão amarelando
Logo, logo estarão caindo
E eu . . . estou sozinho

Me sinto bem
Um pouco estranho
Mas . . . bem

O frio bate forte
E a saudade aumenta
As vezes posso parecer triste
As vezes posso parecer infeliz
Mas não . . . estou apenas com saudade

Saudade do olhar
Saudade dos carinhos
Saudade dos beijos
Saudade do amor

Amor . . . que um dia senti
Um amor que foi bonito
Um amor que hoje
É apenas uma lembrança

Lembrança de cada momento
Cada anseio
Um amor que o tempo encarregou de apagar
Deixando apenas uma saudade

Nesta fria noite de outono.

domingo, 17 de maio de 2009

Lição de Vida

Eu acreditei nela Eu fui contra tudo Eu fui contra todos Eu . . . acreditei nela Eu sempre achei que ela fosse meio . . . Mas eu gostava dela Ela me fazia bem Quando ela dizia que me amava Eu delirava . . . . Eu adorava Eu era ingênuo Eu . . . acreditei nela Eu era sonhador Eu acreditava no que é direito Eu acreditava em um mundo perfeito Mas, ela se foi Como um lindo Castelo de Areia Que com o vai e vem do mar No dia seguinte se faz apagar Ela se foi Como um grande sonho Que se sonha em sonhar E que nunca se deve acabar Ela se foi O sonho acabou, nada restou Apenas gotas salgadas deslizando Sobre a face que um dia sorriu E que hoje chora Pois ela partiu. . . Que espécie de mulher é essa? Que entra na minha vida Se apodera dos meus sentimentos Me hipnotiza Me barbariza E vai embora Se apossa da minha vida Se torna meu destino Me ensina a Amar A ser amado Respeitado Idolatrado E depois vai embora Como a brisa campestre Esvoaçante pelo globo terrestre Ela se foi lenta e vagarosamente Sabendo que isso não seria intermitente. Ela se foi Desviando de todos os obstáculos que coloquei a ela Na minha inútil tentativa De não perder aquela Mas ela se foi Fazendo com que meu coração Se tornasse apenas um órgão Com uma única função Me manter vivo, batendo e sofrendo Lúcido, acordado por noites a fio Sofrendo Vivendo Querendo e não podendo Somente sofrendo Batendo Vivendo E sofrendo Não pude evitar de perguntar . . . Oh! Deus, não seria melhor tudo isso sem sofrimento? Mas ele se calou Não falou Não suspirou Apenas se calou Tudo bem . . . tiro a felicidade A alegria se necessário Mas acabe com minha tristeza Com esse escárnio E ele continuou calado Não respondeu Não se atreveu Do que me adianta a vida Se não puder gozar dos prazeres dela? Se eu não puder ir Se eu não puder vir Se eu não puder cantar Se eu não puder sorrir Se eu não puder Ser feliz Se eu não puder amar Se eu não puder sonhar Se eu não puder me divertir? Pare de sofrer meu coração Pare de se debater Eu já lhe causei muita dor Vamos logo, acabe com esse pudor Já é hora de você descansar Já é hora de você repousar E meu coração Bravo como um guerreiro medieval Forte como uma artilharia naval Ao contrário de Deus respondeu . . . A vida estava tão boa Quando ela estava por perto Quando tudo dava certo Se eu parar O sonho irá se encerrar E com certeza nunca Nossa grande ferida vai cicatrizar Tudo irá terminar. . . Mas se eu continuar. . . Quem sabe um dia Após um grande badalar Voltemos a sonhar? Somos fortes Vamos arriscar Nós ainda temos forças para lutar E foi assim Por opção do meu coração Que pude voltar a sorrir Voltar a viver Voltar a rir Voltar a crescer Voltar a sentir Voltei a apostar Voltei a acreditar Voltei a sonhar Voltei a me enamorar Quem sabe um dia desses. . . Eu também possa. . . Voltar a AMAR. . .

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O Encontro

O dia amanhece, e como de costume, ao sair da cama Carlos abre a janela e dá bom dia ao dia. Um gesto simples, que quase ninguém faz atualmente, mas Carlos o faz todos os dias sem hesitar. Na cabeça pensamentos comuns de um rapaz comum, é domingo, dia de descanso, de jogar futebol, chamar os amigos e fazer um churrasco com pagode. Decidiu reunir a turma, foi então que se viu só em pleno domingo. Várias as desculpas, trabalho, filhos, esposa, cansaço, foram as mais ouvidas. Hoje, as pessoas estão cada vez mais ocupadas, isoladas, violentas, falsas, mentirosas.
Será? Será que o destino de todos é a solidão, a indiferença, a desconfiança? Será que os sentimentos bons estão realmente sendo esquecidos pelos homens?
Carlos passou o domingo pensando nas relações humanas e percebeu que seu singelo gesto matinal era uma bobagem, se sentiu estranho por estar feliz, em tempos modernos a felicidade não existe, ou melhor, felicidade é dinheiro no bolso. Como ele poderia ser feliz sendo um típico cidadão brasileiro, pobre, a pele escura, o rosto abatido pela vida dura . . . não ele realmente não podia se sentir feliz. O dia passou, a noite se anunciou e o sono chegou, é hora de dormir pois o dia seguinte é dia de trabalhar.
É segunda-feira, nem bem nasceu o dia e pela primeira vez na vida aquele homem levantou e foi direto para o banheiro, obrigações diurnas normais banho tomado, dentes escovados, roupa passada, tudo feito é hora de ir ao ponto de ônibus. Rotina das pessoas que vivem à margens da sociedade é assim, acordar cedo e sair de casa antes do sol aparecer, pegar uma condução cara e precária – o chamado GOL, “Grande Ônibus Lotado” – e dividir espaço com outros tantos na mesma situação, todos com cara fechada, semblantes carrancudos sem nem ao menos olhar para os lados. Carlos percebeu que estava certo, que havia tomado a decisão correta.
Durante o expediente não houve uma só pessoa que não tivesse notado a mudança, todos comentavam como Carlos estava diferente, fechado num canto, realizando suas funções sem dar um único sorriso, sem levantar a cabeça, apenas dando respostas curtas e secas. A única resposta que os colegas de trabalho queriam saber era onde estava aquele rapaz alegre, que sempre tinha um lindo sorriso sincero no rosto, palavras de carinho e amparo para quem precisasse . . . onde estava esse rapaz? O que acontecera à ele? Ninguém sabia, ninguém sequer imaginava o que se passava naquela cabeça.
Carlos estava tão chateado com o rumo que as coisas haviam tomado que nem se dera conta de que era o assunto do dia. Semanas inteiras se passaram, um dia após o outro e cada um da mesma forma, tristes, solitários e carrancudos. Se alguém se atrevesse a perguntar o que estava acontecendo levava logo uma resposta bastante agressiva, seus colegas, amigos e companheiros estavam preocupados, aflitos e sem saber o que fazer para ajudar, pois Carlos não se abria com ninguém, há tempos não comparecia ao futebol de todos os domingos, vivia sempre sozinho e nas raras oportunidades em que se reunia com as pessoas ou ficava poucos minutos ou se ficava, era o tempo todo reclamando e esbravejando aos quatro ventos o quanto era difícil a vida, que estava cansado de tudo . . . . . . .
Mais uma semana se passou, e com ela chegou outro final de semana, mais um domingo, mais solidão. Foi então que veio a vontade, ou melhor, a necessidade de estar em algum lugar diferente, de respirar um pouco, fazer uma simples caminhada. Havia um parque perto de sua casa, Carlos então tomou um banho, se vestiu e foi caminhar, passou a tarde inteira no parque sem olhar para nenhuma pessoa, não trocou nem uma palavra com ninguém como sempre. No final da tarde, já cansado, resolveu tomar um refresco e mal sabia que esta atitude iria mudaria radicalmente a sua vida.
Domingo de sol, um parque, um banco, um refresco . . . e Carlos, um rapaz comum que nem percebeu o que estava acontecendo. Ao seu lado sentou-se um garotinho, e sem mais nem menos disse “Boa tarde moço” com um sorriso lindo e puro que só as crianças tem. O garoto começou a contar para o “moço” o que havia feito ou deixado de fazer naquele dia tão bonito, falou tanto e daquela forma que só as crianças conseguem falar que nem se deu conta de que não estavam lhe dando atenção, de repente o menino percebeu que estava sozinho, olhou ao seu redor e avistou o homem se afastando lá ao longe. Levantou-se e correu como nunca havia corrido antes até conseguir alcançar o tal, quando chegou disse:
- Moço . . . ô moço . . . . . .
- O que foi garoto? O que você quer comigo?
- Nada, não foi nada não, eu só queria lhe dizer boa tarde!
- Pronto, já não disse?
- Sim já disse mas . . . credo, porque o senhor é tão bravo? Deve ter acontecido alguma coisa muito ruim para você ter ficado assim tão . . . rude, tão grosso, tão velho rabugento apesar de novo.
- Que isso pequeno jovem, como que você diz essas coisa para alguém que você nem conhece e que é mais velho que você, seus pais não te deram educação não?!
- Claro que deram, e deram outras coisas também, mas com certeza o senhor não está interessado em ouvir afinal deve ser alguém importante e bastante ocupado e . . . . .
- Sim sou, mas nem tanto. Hoje é um belo domingo de sol e estou com bastante tempo . . . vamos voltar para onde estávamos para batermos um papo.
Nesse momento Carlos reparou um pouco mais naquele pequeno garoto que estava a sua frente e pode constatar que se tratava de uma criança nitidamente simples, pelas roupas surradas e sujas, o olhar fundo e penetrante típico daqueles que sofrem, uma criança brasileira e imediatamente mudou de idéia
- Peraí, que tal irmos até uma lanchonete, já passa da hora do jantar e você deve estar com fome !?!
- Olha moço eu não vou mentir para o senhor, estou com fome sim pois não como nada desde ontem de manhã.
- Então vamos à lanchonete do parque .......
Os dois se levantaram e caminharam tranqüilamente ao chegar, o garoto pediu para que eles se sentassem em uma mesa do lado de fora onde era possível ver os pássaros e toda a beleza do parque. Fizeram seus pedidos normalmente e o garoto se sentiu maravilhado com o que lhe estava acontecendo, comeu um lanche enorme e bastante gostoso. Carlos observava a forma com que seu “amiguinho” saciava sua fome, o brilho nos seus olhos e resolveu fazer uma pequena surpresa. Usou uma vontade de ir ao banheiro como desculpa e combinou com o garçom uma bela e gigantesca taça de sorvete com todas as coberturas possíveis e imagináveis.
Quando o “sorvetão” chegou o garoto quase explodiu de alegria, fazia muito, muito tempo que ele não saboreava um bom sorvete . . . devorou em poucos minutos aquele presente. Terminada a refeição os dois recém conhecidos ficaram um bom tempo apenas se olhando e vez em quando perdiam os olhares pelo horizonte observando a exuberância da natureza naquele final de tarde de um Domingo ensolarado.
O tempo foi passando e quando notaram estavam em meio a uma descontraída conversa, não sabiam ao certo como havia começado, mas isso já não tinha nenhuma importância, somente a troca de informações que estava começando a acontecer ali no banco da lanchonete no meio de um parque num domingo qualquer para qualquer um e que seria único e especial para Carlos e Joãozinho (João, esse era o nome daquele garotinho).
De forma tocante, sincera, apressada, confundindo todos os sentimentos ao falar Joãozinho foi narrando a triste história da sua curta existência. Contou como havia perdido o pai numa briga de bar quando tinha quatro anos de idade, de como a vida era difícil na favela em que morava com a mãe que começara a beber e a se drogar após a morte do pai, Disse a Carlos que passava dias na rua fazendo todo tipo de serviço para tentar levar algum tipo de alimento para sua mãe e como raramente conseguia, levava dias para voltar pra casa . . . . até o dia que voltou e não encontrou sua mãe, encontrou uma vizinha que lhe deu a notícia da morte de sua mãe. Ao ouvir a notícia o pequeno menino atravessou a porta e nunca mais voltou e fez das ruas o seu novo lar.
Carlos ouvia tudo atentamente, a história era triste mas havia algo que o intrigava. Aquele garotinho a sua frente narrava sua história trágica de forma calma e serena e ainda dizia que por várias vezes ajudava quem quer que estivesse precisando de ajuda e toda vez que falava nisso abria um franco sorriso. Nesse momento ele revelou que por isso havia iniciado uma aproximação:
- Tio Carlos, eu vi que o senhor caminhava pelo parque com a cara fechada,
uma tristeza no rosto e achei que talvez pudesse fazer algo . . .
- É verdade meu pequeno amigo, ocorreram coisas na minha vida que me tiraram a alegria habitual mergulhando meu ser numa tristeza e egoísta . . . Mas isso não importa, me conte mais sobre você, qual seus sonhos, vontades . . .
Joãozinho começou a falar que gostava muito de desenhar casas, prédios, contou que adorava desenhar cadeiras e armários coloridos e que um grande sonho era aprender a ler, mas confessou que sabia que esse era um sonho distante pois mal conseguia comer quanto mais comprar roupas, cadernos, lápis e todas as coisas que precisaria se alguma escola o aceitasse.
Carlos ficou comovido e perguntou se aquele garoto não queria ir morar com ele. A resposta veio em um abraço emocionado, e lá foram os dois para casa.
O tempo foi passando e aquele homem que havia perdido as esperanças hoje conseguia sorrir, Joãozinho começou a freqüentar uma escola, aprendeu a ler e com o passar dos anos descobriu que tinha vocação para arquitetura profissão que exerceu após longos anos de estudo sempre com a ajuda de Carlos a quem carinhosamente chamava de pai.
Carlos . . . bem, Carlos voltou a ser o mesmo homem demais, ou melhor, nunca mais foi o mesmo. Descobriu que seu erro não era acordar e dar bom dia ao dia, seu erro era dar bom dia com todo entusiasmo apenas para os dia, descobriu que havia pessoas ao seu redor a todo momento, amigos, colegas, conhecidos e desconhecidos e que alguns deles tinham problemas bem maiores que o dele . . . passou a dar bom dia para todos que via na rua, parava pra conversar com alguém se percebia um rosto triste ou amargurado . . .
Naquele domingo de sol Carlos descobriu a vida na figura daquele garotinho de olhar intenso, teve um encontro, descobriu como ser . . . humano, teve o encontro com o Amor.