quarta-feira, 15 de abril de 2009

A Caneta

Século 21, talvez nunca tenha existido nada tão esperado. Todos comentando e esperando sua chegada. Desde de o começo sabemos que a “função do homem é evoluir” e é isso que o homem tem feito, evoluindo, criando e recriando tudo aquilo que a mente humana é capaz de gerar, pensar e imaginar. O fogo, a palavra, a escrita, a roda, a música, o livro, a escola, o carro, a indústria, o avião, todos objetos maravilhosos desenvolvidos pela mente do ser humano para facilitar a vida e manter continuo o exercício do raciocínio, a inesgotável busca pela superação, não aceitar os limites, querer sempre deixá-los para trás.
Quando alguém imagina que tudo foi descoberto, que não há nada mais que possa surpreender, eis que surge mais uma novidade. Século 21, a humanidade se rende ao fascinante mundo do computador. Uma máquina bastante complexa que aos poucos foi se tornando mais e mais comum, com o surgimento de cursos e inúmeras facilidades de aquisição, ao ponto de ser considerado um mero utensílio, apenas mais um eletrodoméstico. Centenas de clicks, atualizações constantes, todo mundo “plugado” na tela sem nem ao menos piscar. O que dizem ser uma grandiosa invenção do ser humano facilita a vida, ir ao banco, ao supermercado, comprar um disco, escolher uma calça nova, basta um pequeno click e . . . feito, transações bancárias, compras de qualquer natureza, enviar flores, cartões de amor e muito mais, praticamente tudo pode ser adquirido, enviado e resolvido com um singelo click no “mouse”.
Essa máquina já era considerada incrível, mas agora com o surgimento da INTRNET, a rede mundial de computadores, esta invenção humana é capaz de diminuir o tempo gasto com coisas comuns como preparar e enviar uma carta, uma mensagem para alguém que se ama . . . escrever, o simples ato de escrever é hoje algo que o computador facilitou ainda mais pois existem recursos que só essa máquina tem, como por exemplo o botão “Delete”, se errar basta “deletar”, outro recurso bastante considerável é o fabuloso número de tipos de letra disponível, não existe mais a preocupação com a caligrafia, mas . . .
Com a era da informática muito da magia se foi, todo o “ritual” de preparação de uma carta de amor por exemplo já não existe mais, hoje não se perde mais tempo indo a papelaria para escolher um tipo de papel, papel de carta então é bem provável que não exista mais, e o serviço postal então nem se fala, talvez a geração “Internet PC Windows Explorer” nem faça idéia de onde fica uma agência dos correios nem tão pouco saiba como uma delas funciona, já não se perde tempo indo ao correio, aliás correio para quê se existe o “e-mail”?!
A magia se foi, a beleza de expor as idéias sentado de forma confortável com apenas uma folha de papel em branco e uma caneta se foi. Aliás a tal caneta, será que ainda tem muita utilidade além de assinar cheques, contratos? . . . já faz tempo que se perdeu o costume de pegar uma caneta e deixar um bilhete para alguém.
Pensando bem, ainda bem que o computador chegou pois ter que pegar numa caneta é algo muito estranho. Um pequeno objeto cilíndrico com um tubo cheio de tinta em seu interior com uma pequena variedade de cores e formatos, não tem nem comparação com a facilidade de uma carta feita pelo computador, nem tão pouco a beleza das possibilidades de gráficos e desenhos e tipos de letra. É . . . uma caneta não serve para nada mesmo, apenas para pequenas coisas sem importância, e algumas delas apenas representam símbolos, como “status”, é o caso de uma caneta bico de pena da “Mont Blanc” com design italiano, ponta de ouro 18 quilates corpo em ouro branco e detalhes feitos com brilhantes talhados a mão, etc. . . . etc. . . . etc.
Mas ainda assim não se pode negar que uma mensagem computadorizada, por mais colorida e bonita que pareça, por mais recursos gráficos que tenha, ainda assim é fria e sem sentimento, não pode ser comparada com uma carta escrita a mão! A magia de imaginar pela letra o estado em que a pessoa que escreveu se encontrava, a possibilidade de sentir o cheiro da pessoa pelo contato da pele com o papel, a textura que a tinta da caneta deixou ali impressa para todo o sempre, o contraste de uma carta longa escrita com uma caneta que estava por terminar cheia de pequenas falhas, e o brilho que se segue ao se continuar com uma caneta nova. Escrever a mão com uma caneta em punho ainda é um ato que sobrevive à modernização.
A caneta possibilita a demonstração de sentimentos, mostra à quem lê a personalidade de quem escreve, a letra trêmula, redonda, grande, pequena, quadrada, caprichada, relaxada, feia, bonita. A mão que ao pegar em uma caneta desenha uma letra que se junta com tantas outras formando palavras que se revelam frases num complicado turbilhão de mensagens que não importa o que aconteça terá sempre seu espaço pois o sentimento irá sempre existir justamente com a emoção de receber uma carta entregue pelo carteiro que passa todo dia no mesmo horário sem falta. O mundo pode seguir se modernizando que ainda assim a caneta vai resistir e sempre existir.
Não tem jeito, este pequeno e realmente muito antigo objeto terá sempre seu espaço garantido ao longo do tempo. Um recado escrito as presas no meio da rua só pode ser deixado se houver uma caneta, conferir os itens que já se encontram no carrinho do supermercado só é possível com o uso de uma caneta, para quase tudo que se desejar a caneta será o objeto que a mente irá idealizar no perfeito cumprimento da função desejada, para deixar uma pequena marca pessoal como uma simples assinatura . . . . deve-se utilizar uma caneta.
Preta, azul, vermelha. Encontram-se disponíveis outras cores mas ainda assim utiliza-se com maior freqüência essas três, as mais simples e comum, numa prova de que por mais longe que a humanidade chegue, por mais modernizado que o mundo fique, as coisas importantes da vida serão sempre as mais comuns e as mais simples, como escrever uma carta em uma folha de papel branca com uma caneta preta. Simples, comum, porém marcante e muito significativo. Um ato que muitas pessoas deixaram de lado por motivos que nem elas mesmo são capazes de identificar.
Deixar a caneta esquecida no fundo de uma gaveta é um erro tão grande quanto esquecer de telefonar para um grande amigo, é a menor evidência de que os seres humanos estão cada vez mais distantes uns dos outros, vivendo relações cada vez mais superficiais onde não tem cabimento pegar um papel, uma caneta e escrever uma carta. O que está acontecendo com o mundo dito moderno, o que aconteceu com os valores realmente importantes. Porque os sentimentos se tornaram tão mesquinhos ao ponto de valorizar uma pessoa pelo tipo de caneta que ela pode ou não adquirir.
Uma caneta, algo simples mas com uma importância significativa na vida do ser humano, mesmo após tantos anos de existência é um dos objetos mais utilizados pela mão humana se não for o mais usado. Ainda conserva seu espaço de forma grandiosa, como no início dos tempos, lá nos primórdios, quando o homem descobriu que poderia ir além dos limites existentes entre o céu e a terra, naquele tempo os grandes gênios faziam uso de uma pena e um tubo de nanquim para transpor ao papel suas brilhantes idéias no campo da astrologia como fez Galileu Galilei, no campo da física como Albert Einstein, e não só de cálculos se fez a história da caneta, Santos Dumont gastou vários tubos de tinta entre cálculos e desenhos do protótipo do que seria a primeira aeronave do mundo, o 14 BIS.
A caneta se fez presente em grandes momentos da história mundial . . . assinatura da Lei Áurea, a Proclamação da República, a Independência, a carta renúncia de Jânio Quadros, a carta deixada por Getúlio Vargas na qual ficou registrada a celebre frase “Saio da vida para entrar para História”. A caneta deslizou pelo papel e imprimiu letras que formaram palavras que foram organizadas em forma de estrofes que continham lindos versos pelas mãos hábeis dos grandes poetas, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais, Mário de Andrade, Mário Quintana e Mário Lago. E quando se menciona as grandes obras literárias de que se tem notícia escritas por Machado de Assis, Jorge Amado, Lima Barreto, Clarice Lispector, Jô Soares, Aghatha Christie, dentre tantos outros nomes de ilustres mentes que elevaram seus nomes muito antes do surgimento de máquinas de escrever ou mesmo computador. Graças aos céus existia a caneta que possibilitou o surgimento de verdadeiros tesouros.
Sem sombra de dúvida, não há como negar que haja o que houver, surgindo o que tiver que surgir, sempre existirá alguém com uma caneta em punho desenhando, entalhando no papel palavras descrevendo, contando, narrando, revelando, retratando todas as belezas e por que não as tristezas que os olhos vêem o coração sente e a mente em conjunto com as emoções interpretam, assim como as angústias, os anseios, os desejos, os pedidos, as vontades enfim todos os sentimentos bons e os ruins também , momentos alegres ou tristes, para todos os momentos da vida do ser humano e se não para todos, para algum deles a caneta estará lá registrando o fato.
Computador, internet, Palm top, notebook, pager, celulares com “waap”, cartão de crédito lojas virtuais, não importa o quanto a tecnologia se desenvolva, não importa quantos novos recursos isso possa vir a trazer, tudo isso não importa pois o que é belo sempre terá seu espaço, e na maioria dos casos o belo é simples, simples como uma caneta BIC.

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